todo aquele que escreve transborda.
ainda que se escreva em um diário,
o cadeado a servir-lhe de tranca,
há somente a ilusão do segredo:
as confidências pertencem ao mundo.
todo aquele que escreve denuncia.
ainda que se escreva uma carta,
o nome do destinatário ao envelope,
há somente a ilusão do sigilo:
as notícias pertencem ao mundo.
todo aquele que escreva forja.
ainda que se escreva um soneto,
a rubrica sob os versos medidos,
há somente a ilusão da autoria:
as artes pertencem ao mundo.
e, afinal, se tantos escrevem,
é porque a existência
se exige compartilhada.
há somente a ilusão do corpo:
as vidas pertencem ao mundo.